
As células vivas emitem uma luz ultrafra fraca e coerente no espectro visível, cujo propósito é a regulação dos mecanismos intra e extracelulares. Com essas emissões cromáticas, as células alcançam a homeostase. Vários cientistas estudam o fenômeno há anos, com descobertas surpreendentes que proporcionam uma nova visão sobre a fisiologia celular e sua relação com o meio ambiente. Essa emissão de luz, também conhecida como biofótons, permite uma abordagem diferente para algumas doenças. Neste artigo, sintetizamos os antecedentes e o estado da questão sobre essa luz celular coerente.

Um pouco de história sobre os biofótons
Há mais de um século, a partir de trabalhos em biofísica e medicina, começaram a ser descobertas evidências de que tanto os metais quanto as células vivas reagiam a frequências eletromagnéticas, como a luz e outras ondas. Um dos primeiros pesquisadores nesse campo foi o biofísico indiano Jagadis Chunder Bose (1858-1937), que descobriu alterações na estrutura de determinados metais sob a influência de campos elétricos.
No campo da biologia, as primeiras observações são atribuídas ao biofísico russo Alexander L. Chizhevsky (1897-1964) — conhecido como o fundador da heliobiologia —, que estudou os efeitos da ionização do ar sobre a vida, especialmente sobre a saúde e o comportamento humano. Entre 1919 e 1930, Chizhevsky foi o primeiro a demonstrar o efeito dos íons negativos e positivos do ar nos organismos e a investigar os efeitos das radiações mitogenéticas.
Outro biofísico e biogeoquímico russo, Vladimir I. Vernadsky (1863-1945) — conhecido por ser o pai da ecologia moderna ao formular seu conceito teleológico da vida e da biosfera, que seria posteriormente ampliado por James Lovelock em sua Teoria de Gaia — demonstrou que a vida é sensível aos campos eletromagnéticos, especialmente à luz do sol. Seus estudos o levaram a formular a hipótese de que a biosfera nada mais é do que a soma de todos os organismos vivos do planeta, que estão interconectados, sendo a vida a expressão do conjunto desses organismos.
As investigações sobre os efeitos das radiações eletromagnéticas nos seres vivos alcançaram um primeiro marco notável com Alexander Gurwitsch (1874–1954), que demonstrou que raios ultravioletas de intensidade muito baixa estimulavam a mitose celular, da mesma forma que as células com intensa atividade de multiplicação também emitiam radiação ultravioleta de baixa intensidade, à qual ele chamou de radiações mitogenéticas. Posteriormente, essa radiação luminosa celular passou a ser chamada de biofóton.
Gurwitsch é o descobridor da interação não química nos sistemas biológicos (efeito mitogenético) e foi o primeiro cientista a trabalhar com biofotônica. Seus estudos estabeleceram as bases científicas para formular a ideia de que a vida contém uma energia vital intrínseca, que se manifesta sob a forma de radiação eletromagnética (luz) e que pode ser captada e medida. Essa luz celular nada tem a ver com o halo energético que pode ser percebido com a câmera Kirlian — um tipo de fotografia que capta o campo elétrico intenso de alta frequência da matéria e, por exemplo, registra a intensidade luminosa ao redor de um corpo exposto a esse campo.

Esquema e imagem do experimento realizado por Gurwitsch em 1923 sobre o chamado efeito mitogenético. No gráfico, o número 1 corresponde ao indutor e o 2 ao receptor. No esquema, a letra Z corresponde aos bulbos de cebola; C é a ponta da raiz-indutor; H é o quartzo da janela de vidro que separa o indutor do receptor; W corresponde à posição fixa da raiz-receptor. Imagem original.
O cientista e filósofo russo Georges Lakhovsky (1870-1942) é autor de um livro intitulado "O segredo da vida: eletricidade e radiação em seu corpo" (1929), no qual afirmava que: "Todo ser vivo emite radiações", já que todos os seres vivos estão em ressonância tanto com as frequências emitidas pela litosfera do planeta quanto pelo Sol e pelo cosmos.
Ele sustentava que a harmonia vital e o bem-estar dependem dessa sintonia com a energia atmosférica. Para realizar seus trabalhos, desenvolveu o chamado Oscilador Multiplicador de Ondas ou Multiple Wave Oscillator (MWO), em colaboração com Nikola Tesla (1856-1943), e o utilizou para tratar alguns tipos de câncer, submetendo-os a frequências ultracurtas de rádio.
Lakhovsky supunha que cada célula vibra a uma frequência determinada, e um microrganismo o faz em uma frequência diferente. Isso provoca uma desarmonia que incentiva a doença. No entanto, se a frequência da célula for muito superior à do microrganismo, então ela repele a infecção.

Capa do livro que reúne as pesquisas sobre os biofótons, publicado em 1994.
Posteriormente, os biofísicos italianos Laura Colli e Ugo Facchini, entre 1954 e 1955, na Universidade de Milão, enquanto verificavam as descobertas de Gurwitsch com uma nova tecnologia, constataram que os brotos de diversas plantas emitem luz visível.
Mas suas conclusões foram contundentes, pois a emissão de luz que observaram não estava na faixa do ultravioleta, como havia sido afirmado anteriormente, mas sim situada no espectro visível, entre o verde e o vermelho, embora muito mais fraca (1 x 10⁻¹⁸).
Após essa verificação, que publicaram, no entanto, abandonaram as investigações que haviam iniciado.
Assim, a chamada “radiação celular ultrafraca ou de baixa intensidade”, também conhecida como radiação mitogenética, corresponde ao conceito de biofóton, atualmente em destaque graças aos trabalhos do biofísico australiano Terence Ivan Quickenden (1939–2005) no final da década de 1960 sobre bioluminescência, e, uma década depois, ampliados pelo biofísico alemão Fritz-Albert Popp (1938-) e seus colaboradores.
Os primórdios dos estudos sobre os biofótons
O conceito de biofóton tem implicações importantes na definição da Vida e explicaria que essa emissão ultrafraca de luz coerente celular (da mesma natureza da luz laser) é essencial para o bom funcionamento fisiológico das células. Também explicaria por que campos eletromagnéticos de intensidade muito baixa influenciam certos processos vitais.
A ciência inicialmente não deu atenção aos biofótons, pois considerava que essas emissões de luz celular não tinham energia suficiente para afetar processos bioquímicos celulares, como romper ligações moleculares. No entanto, a percepção começou a mudar quando pesquisas demonstraram que não se tratava de luz dispersa, como a que nos rodeia, mas sim de uma emissão de luz coerente, semelhante à do laser.
O aspecto revolucionário dessa descoberta é que prova que os organismos vivos se comportam como amplificadores de campos eletromagnéticos. Consequentemente, essa sensibilidade celular estimulou múltiplos estudos, como o fato de que alimentos podem condicionar a luminosidade celular, ou que as células se comunicam entre si por meio de ondas eletromagnéticas, como demonstraram o russo Wlail P. Kasnatschejew e seus colaboradores da Universidade de Novosibirsk, Semjon P. Schurin e Ludmilla Michailowa, em diversos experimentos científicos realizados na década de 1960, que precederam as investigações de Fritz-Albert Popp.
Os trabalhos de Fritz-Albert Popp
Fritz-Albert Popp (1938-) é atualmente a referência principal na pesquisa sobre biofótons. Um dos seus primeiros trabalhos para determinar a existência da luz celular coerente — e que essa luz seria a base da comunicação entre células, especialmente para sincronizar o crescimento — surgiu a partir de um projeto realizado em 1975 pelo jovem estudante de pós-graduação em biofísica, Bernard Ruth.
Popp orientou Ruth para construir um fotômetro de alta sensibilidade que permitisse visualizar uma emissão de luz tão fraca que não fosse perceptível com equipamentos ópticos convencionais. O aparelho desenvolvido por Ruth consistia em tubos fotomultiplicadores muito sensíveis.
Com esse aparelho, foi possível iniciar o mapeamento da luz ou biofótons emitidos por sistemas vivos. A sensibilidade do equipamento era bastante elevada, sendo capaz de detectar quantidades mínimas de luz — por exemplo, o equivalente à emissão luminosa de um vaga-lume situado a 10 km de distância.
Com este dispositivo, foram visualizadas essas radiações luminosas celulares, e pôde-se observar que, pouco antes de morrer, as células aumentavam suas emissões luminosas, como se fosse um padrão de comunicação. Essa “luz interior” explicaria como as células podem se comunicar em uma velocidade muito superior à dos tradicionais processos bioquímicos.

O aparelho fotomultiplicador desenvolvido por Bernard Ruth que permite visualizar as radiações luminosas celulares. Imagem original na Quantcom.
Em outras palavras, essa emissão eletromagnética luminosa coerente, própria dos seres vivos — ou biofótons — seria o fator primário que regula não apenas os processos fisiológicos essenciais, mas também organiza a chamada matriz do campo morfogenético, que condiciona todas as estruturas e processos dos organismos.
Alguns autores quiseram ver nos biofótons a explicação para o campo energético áurico descrito pelas tradições espirituais. No entanto, os biofótons nada têm a ver com essas emissões.
A chave de todas as investigações sobre os biofótons tem sido demonstrar que se trata de luz coerente, ou seja, ordenada; em outras palavras, como já mencionamos, não é uma luz convencional como a que percebemos habitualmente, mas sim uma luz laser.
Segundo Popp, os organismos vivos estão envolvidos em um campo eletromagnético próprio, em um estado energético instável entre o caos e a ordem, sendo, portanto, capazes de emitir uma reação equilibradora ou de autorregulação.
A teoria dos biofótons explicaria, assim, algumas experiências “sutis” de autocura celular diante de determinadas doenças, desde que estas recebam a informação energética eletromagnética (luz) sutil adequada. Mas, sobretudo, as emissões de biofótons podem regular certas alterações ambientais, criando um equilíbrio e identidade a partir de um novo padrão luminoso.
Os biofótons também são denominados self-bioluminescent emission (autoemissão de bioluminescência). A teoria dos biofótons sugere que essa luz coerente é armazenada no DNA (Popp et al., 1984) e, concretamente, que emana dos núcleos das células. Isso foi observado quando a fotoemissão ultrafraca do biofóton cessava ao se eliminar os núcleos celulares.
Segundo Fritz-Albert Popp, o DNA atuaria, portanto, como um gerador laser, capaz de captar os fótons da luz solar e de outras fontes, convertendo-os em luz coerente. Assim, os estados coerentes de luz que as células posteriormente emitem se originam no DNA como um produto das interações entre as ondas eletromagnéticas ambientais, funcionando como um sintonizador que vibra em ressonância com o campo de ondas eletromagnéticas, num fenômeno de sinergia cooperativa.

Gráfico do funcionamento do fotomultiplicador. O dínodo é o nome que recebem cada um dos eletrodos de um tubo fotomultiplicador. Imagem original na Quantcom.
As confirmações
A suposição de que as células dos seres vivos emitem essa radiação ultrafraca e coerente para se comunicarem foi confirmada por múltiplos experimentos nas últimas décadas.
Assim, no experimento do biofísico russo Alexander Burlakov, junto com L.V. Beloussov e A.A. Konradov, em 1999, várias amostras de ovos fertilizados do peixe Misgurnus fossilis em diferentes fases de desenvolvimento foram colocadas em contato visual entre si, e os efeitos produzidos foram estudados.
A partir de suas observações, concluíram que os ovos mais desenvolvidos entravam em um processo de desaceleração, e muitos deles acabavam morrendo, enquanto os menos desenvolvidos aceleravam seu ritmo de desenvolvimento. De fato, esse efeito é bem conhecido em pisciculturas.
No experimento, Burlakov e sua equipe colocaram um disco para impedir a visibilidade entre os diferentes ovos e comprovaram que, quando não se viam, seguiam seu desenvolvimento normalmente. No momento em que voltavam a “se ver”, ocorria novamente a sincronização.
As pesquisas sobre biofótons já envolvem um bom número de equipes científicas em várias partes do mundo. Outros estudos confirmam que a emissão de biofótons, como fotoemissão ultrafraca coerente, é observável em cloroplastos isolados de espinafre, mesmo após terem sido submetidos a várias horas de adaptação à escuridão.
Essa emissão espontânea de luz ocorre na presença de oxigênio, o que indica que, nesse caso, a cadeia respiratória dos cloroplastos está envolvida na série de reações redox que conduzem à excitação do emissor de biofótons, presumivelmente moléculas de clorofila.

Imagem de organismos unicelulares emitindo cerca de 100 fótons por centímetro quadrado por segundo, na faixa de comprimento de onda de 200 a 800 nanômetros (nm), enquanto as pessoas emitem apenas 10 fótons por centímetro quadrado por segundo. Um organismo mais evoluído emite menos biofótons.
Outros trabalhos científicos demonstram que os biofótons reforçam os elétrons da cadeia respiratória, de modo que permitem a formação de ATP (trifosfato de adenosina), mesmo na ausência de oxigênio e glicose.
Essa é uma das principais contribuições das evidências apresentadas por Fritz-Albert Popp em 1975, demonstrando assim que cada ser vivo emite uma luz tênue e coerente, com comprimentos de onda entre 200 e 800 nanômetros, originada a partir de elétrons excitados pela luz solar.
A elevada coerência da luz do biofóton é o que permite não apenas transferir energia, mas também ser um meio de comunicação celular.
Aplicações
As pesquisas de Fritz-Albert Popp evidenciaram que a luz emitida pelo corpo humano pode desempenhar um papel decisivo no desenvolvimento de doenças e na manutenção da saúde.
Em um experimento, comparou-se a luz emitida pelos ovos pálidos de galinhas criadas ao ar livre, em contato com a natureza, com a dos ovos de galinhas criadas confinadas em gaiolas nas granjas. O resultado foi que, enquanto os ovos das galinhas criadas soltas emitiam luz coerente, os ovos das galinhas de granja não apresentavam essa emissão.
Algo semelhante pode ser observado em relação à alimentação humana: em todos os seres vivos, incluindo os humanos, nota-se que diante de qualquer transtorno no corpo ou na psique há um aumento da emissão de luz incoerente.
Em suma, o estudo dos biofótons permite concluir que a saúde é um estado de comunicação subatômica perfeita e coerente, de natureza luminosa. A luz emitida em estados de doença ou saúde debilitada representa uma fraqueza ou interrupção desse tipo de comunicação luminosa coerente intercelular.
Atualmente, boa parte das pesquisas sobre os biofótons concentra-se em compreender como poderiam ser aplicadas na medicina. Por sua vez, essas investigações (que podem ser acompanhadas por meio de diversos simpósios internacionais e publicações especializadas) estão lançando luz sobre como atuam determinadas terapias alternativas, como, por exemplo, a homeopatia.

A teoria dos biofótons oferece, em nível biofísico, um modelo explicativo para o modo de ação dos procedimentos da medicina natural, tais como Reiki e outras terapias alternativas até então vistas como místicas ou esotéricas.